sábado, 24 de setembro de 2011

Melancolia

O fim desse filme fez meu ar se recusar a entrar ou sair, meu corpo ficou estático e minha mente não queria pensar.
Um garoto, que exalava êxtase e perdição, cujos olhos penetravam minhas roupas, tinha um olhar de perdido, ele queria um colo para abraçar e mãos para acariciar os seus cabelos. Não sabia onde era a saída e não tinha certeza se queria ir embora.
Lhe dei minha mão e com um sorriso falso, me estendeu a sua. Fomos andando lentamente, porque não queríamos que a realidade chegasse tão depressa.
Seguimos juntos para a vida normal. Mas o chão não era mais chão, as escadas que agora estavam impregnadas de raízes, mostravam que nos queriam lá. Nenhuma parede existia; víamos pessoas em apartamentos, fazendo suas coisas rotineiras: faxineiras, limpando o chão, que não se limpava, mães querendo calar seus filhos, para poderem transar com os maridos. Tudo estava normal, menos nós.
O olhar de desespero dele, vendo que não fazia mais parte daquele mundo, só fez eu apertar mais sua mão, pois eu compartilhava desse sentimento. Mas o que podíamos fazer? Estávamos fadado a uma vida "real" desde que nossos pais decidiram gozar, por um falso orgasmo.
Nossos olhos não paravam de se olhar. Aos poucos começamos a ser sugados pela imaginação e esquecidos pela vida. Todos os outros olhares não significavam nada, todas as vozes eram mudas. O que nos importava agora, eram nossas mãos que nunca mais se soltariam.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rei do sabe Deus de onde é

Cantoria da menina bonita que trazia felicidade para o povo. Eles a usavam para esquecerem de suas tristezas, de suas vidas e de seus passados, pois a alma já haviam esquecido, tinham deixado-a ir embora com seus filhos.
Todos tremiam só de relembrar a carnificina.
Mas não tem um dia, que não se escuta os gritos de arrependimento, os gemidos de dor e as tentativas de suicídio.
Estou lhes dizendo isso pois hoje contarei uma historia, que fará todos chorarem, fará com que todos ao chegarem em suas casas digam aos seu filhos “nunca hei de fazer isso”, mas lembrem-se que estes pais um dia disseram isso.
“Meu povo, venho hoje aqui para lhes dizer a verdadeira
Verdade.
Nós vivemos nesse caos
Onde temos medo de acordar e sermos
Mortos por simplesmente respirarmos.
A muito que vem os maldidos
Arrancadores de almas
Com seus cavalos e seus punhais
E dessoram nossas filhas,
E acabam com nossas vidas.
Hoje um mensageiro veio ao meu encontro
Disse-me que se colocássemos
Sangue na rocha nossa aldeia seria abençoada.
Mas acalme-se meu povo
Os fortes de espírito,
Que tiverem a fé em nosso Deus
Que doarem a vida pela nossa terra
Terá a vida eterna,
Como pagamento.
Não lhes direi para começarmos com
A prova de fé hoje.
Quero que vocês vão para a casa e pensem bem
E lembrem-se do bem que vocês irão fazer para seus pais, irmãos e avós.
O meu filho mesmo decidiu ser o primeiro
Vai deixar na terra,
Por poucos dias,
Sua mulher e seus filhos,
Para nos salvarmos.
E o filho do patrão com suas melhores vestes saiu de perto de sua mulher e foi de encontro a vida eterna. Ninguém via o medo em seus olhos, a cada passada de perna fazia com que todos acreditassem naquela historia.
Via – se nos olhos de muitos o desejo da longa vida, já se via pais convencendo os filhos a purificar sua alma. E os filhos, como bons descendentes, obedeciam seus genitores.
Uma fila começou a ser criada, mas não se via nenhum choro, nenhum lamento, apenas se
enxergava esperança.
O príncipe estava deitado com a cabeça posta para ser cortada, foi seu pai que lhe tirou a vida. Foi ele que lhe deu a humanidade, então seria ele a lhe dar a eternidade.
“Viu meu povo
Dou-lhes o exemplo de meu amado herdeiro
Agora ele está ao lado do nosso querido Deus
A Espera do sangue e da alma de seus filhos,
Para que assim possamos provar
Ao nosso senhor que acreditamos Nele
E o amamos mais que nossos primogênitos.
Quem será o segundo a conhecer o nosso senhor Jesus Cristo?”
Foi – se um rapaz com seus 9 anos, este chorava de dar dó. Suas roupas tinham o sangue do herdeiro do trono.
“Meu pai
Não estou te desrespeitando
Estou te pedindo
Que me dê sua fé
Faça com que eu não tema a morte
Me mostre que salvarei o senhor
E minha amada mãe,
Por favor meu pai, faça isso.”
“Meu filho não fale isso,
Você está fazendo com que todos comecem a ter medo
E isso não é uma coisa que um homem de família deva fazer.
Nós homens, donos de nossas famílias
Temos que mostrar confiança,
Temos que mostrar que não temos
Medo de nada.
Você terá a vida eterna,
Você terá seu nome gravado na memória de todos.
Tenho inveja de você,
Pois eu estou em uma idade avançada
Para ter a vida eterna
Tenho que ficar aqui,
Para capinar e alimentar sua mãe e suas irmãs.
Enquanto não tenha sangue suficiente
Temos que ter homens fortes,
Para tomar conta de nossas mulheres.”
“Desculpe meu pai, farei sua vontade,
Mas me mate rápido,
Não deixe eu sentir dor.
Mãe tampe os olhos de Beatriz
Pois ela é muito criança para ver isso.
Por favor senhores meus vizinhos
Tampe os olhos de seus filhos,
Não deixem que eles vejam a morte mais uma vez.
Tenham compaixão dos filhos
Que não são primogênitos.”
E assim que deitou no chão, rezou para nossa senhora, para que esta o recebesse de braços abertos, cessando seu medo. E sem contar até três, seu pai lhe tirou a vida humana.
Um por um os primogênitos foram mortos, não lembro quantos morreram naquele dia, mas
agradeci a Deus por ser o ultimo dos 9 filhos de minha mãe. Nunca tive tamanha felicidade pelo meu irmão ter as melhores coisas. Não chorei por sua morte, pois se não fosse ele poderia ter sido eu. Mas fiquei com um bucadinho de inveja por ele ter a vida eterna.
Cabeças rolavam e rolavam, e mães se ajoelhavam para rezar ao nosso senhor que tomassem conta de seus filhos e agradeciam a benção deles poderem ser imortais.
Lembro-me que o ultimo dos meninos a morrer, foi o meu vizinho. Quando sua cabeça rolou penhasco abaixo, os burburinhos cessaram. Esperávamos que a chuva e os homens que fizeram mal para nós, caíssem do céu. Mas nem preciso falar que isso não aconteceu. E para piorar nossas vidas, no dia seguinte onde esperávamos a chuva, vieram os matadores com sua raiva. Eles nem reparamos corpos pelo caminho. Apenas pegaram novas mulheres e novos homens, para lhes tirar a humanidade.
Quando eles foram embora, nosso rei discursar
“Calma meu povo
Isso é uma tentação do demônio
Ele está fazendo isso para testar a nossa fé.
Quer que paremos de acreditar nos sacrifícios
Para que assim,
Não chegue aos céu
Mais almas nobres.
Ele quer que nós não acreditemos
No sinal, que nosso senhor Jesus Crsito nos deu.
Quer que nossas mulheres
Continuem sendo desonradas,
Para que assim ele as encontre no inferno,
E as transforme em suas concubinas.
Vocês querem isso?
Querem que suas filhas e mulheres
Sejam a puta do Diabo?
Claro que não,
Claro que vocês não querem.
Então venham com seus filhos
E provem que vocês ainda acreditam em Deus”
No dia seguinte vieram novos carniceiros e tiraram nossas filhas e mataram nosso filhos, e nosso rei veio novamente com a ladainha.
“Agora é Deus que está falando conosco.
Ele está nos mostrando
Que ele também pode ser cruel
Quando não se acredita em sua palavra.
Muitos duvidaram que o Demônio estava
Nos tentando
Vocês não entendem,
Que se aqui tiver água,
A presença do Demônio quase não irá existir
Pois ele gosta de fogo,
De coisas quentes.
E tendo muita chuva,
O Demônio terá pouca influencia sobre nós
Vamos meu povo demonstrem sua fé
Vamos!”
Agora poucos acreditavam no rei, poucos deram seus filhos, e os poucos que deram, choraram e pediram perdam para suas crias. Os filhos com mais medo, se retorciam para não serem mortos, corriam, mas no final todos tiveram o mesmo destino.
Escutavam-se os gritos das mães desesperadas, que foram obrigadas a aceitar aquilo.
E no dia seguinte uma praga caiu na aldeia, fazendo com que muitos ficassem com febre e morressem lentamente.
“Viu o que vocês fizeram?
Viram?
Vocês com suas duvidas
Trouxeram essa praga
Trouxeram essa desgraça
Minha mulher acordou adoecida
Minha filha que tem menos de dois anos
Tem que tomar seu alimento
Nos seios de outra,
Pois estamos com medo
Que a doença passe para o meu pequeno sol.
Todos vocês tem que dar seus filhos
Para que isso acabe.
Eu darei meu filho mais novo
Para que minha mulher melhore
E quero que todos também dêem seus filhos.
E quem não der, terá sua cabeça decapitada”
“Desculpa meu senhor meu rei,
Mas quem irá decapitar os pais que se recusarem?
Eu sendo o chefe da guarda
Não tirarei a vida de mais ninguém
Muito menos de meu filho.
Certamente que muitos de meus subordinados
Farão o mesmo.
Nós acreditávamos no senhor
E o que o senhor fez?
Fez nós tirarmos a vida de nossos primogênitos.
Desculpe meu rei, mas não irei lhe obedecer.”
“Você meu querido chefe se volta contra mim?
Então terei que lhe matar.
Com muita dor,
Terei que fazer isso.
Matem-o.
O que?
Vocês não iram fazer isso?
Como ousam?
Tudo bem, fiquem do lado dele,
Mas a única mulher que irá acordar bem
É a minha querida esposa.
Meu filho deite-se por favor.”
“Meu pai não faça isso, por favor
Como o senhor ainda acredita nisso?
Eu com meus 11 anos,
Menino que sou
Não acredito
Que Deus vem em seus sonhos,
É o Diabo que vem te tentar
Vem pegar os filhos de seus súditos
Meu pai pare com isso por favor.
Escute seu filho,
Não mate seu ultimo filho homem
Por favor.
Admito que estou com medo.
Não quero morar com o Diabo,
Quero ir para junto de Nossa Virgem Maria,
Quero adormecer em seus braços.
Quero a amar como amo minha mãe.
Não me faça chorar na frente desses homens,
Não faça eu perder minha masculinidade meu pai.”
Como resposta o nosso rei matou seu filho e foi para casa, para ver a falsa melhora de sua mulher.
“Estamos a muito tempo com essa praga
Muitas mulheres já morreram inclusive minha mulher
Por culpa de vocês,
Vocês mataram a minha mulher,
Minha filha e meus netos.
Por favor, meu povo
Eu imploro,
Por favor dêem sangue para o nosso Deus.
Deem o que ele quer.
Vocês querem que eu me ajoelhe perante vocês?
Sim, eu faço,
Querem que eu vá e beije todos os pés
Eu faço.
Devo começar por quem?
Meu povo pensem, a quanto tempo seus filhos
Não vêem as mães,
A quanto tempo eles não dormem dentro de suas casas
Com medo de pegar a doenças de seus pais?
Quantas mulheres ainda terão que perder seus filhos
Para que vocês acreditem em mim?”
Não se sabe de onde que veio uma pedra que o acertou no ombro. Depois dessa primeira pedra vieram outras e mais outras. Até que nosso querido rei, como um verdadeiro reimorreu com centenas de pedras em seu corpo. Mas ele não fugiu e não implorou para viver. Vimos que em seu ser nem ele mesmo acreditava no que falava, e que queria morrer para fazer um acordo com o Diabo. Queria deixar sua alma de sangue azul, no inferno, em troca o Diabo liberasse as outras almas para irem para o céu.
Depois de sua morte ninguém tocou no assunto, pelo menos não em publico.
Não vou dizer que depois disso nossa vida melhorou, não, continuamos com a seca, e com a doença mas tivemos a trégua dos carniceiros. Estes que só vinham uma vez por ano, para pegar novas mulheres.
Mas não culpem esses pais e essas mães, e muito menos esse rei, pois todos queriam uma vida melhor. E fariam de tudo para ter. eles são errados?