terça-feira, 29 de junho de 2010

Negro, somos todos negros

Negro,
Só negro que vejo,
Roupas, pessoas,
Comidas.
Tudo, tudo se tornou negro.
Carvão mancha a alma.
A busca de um pouco de comida
Transformou nossos caminhos.
Que é passado de pai para filho.
Cheguei aqui com 7 anos
Só meu pai que trabalhava para nos sustentar.
No começo se ganhava muito,
Só os pais de família que trabalhavam,
Se tentasse colocar os filhos com menos de 16 anos
Virava motivo de chacotas.
Queria se ter poucos filhos,
Para não ter que dividir sua herança.
Tenho orgulho de dizer que meu pai era um dos melhores
Tirava carvão como ninguém.
Nunca o vi reclamar.
Ele sempre vinha com sorriso no rosto,
Por mais cansado que estivesse.
Acho que tinha orgulho de chegar e falar
Que havia trabalhado por sua família.
Então chegou a época negra,
Na qual diminuíram o salário.
Ele começou a ganhar um décimo do que recebia,
Começamos a passar fome,
Isso não quer dizer que morreríamos de fome,
Apenas comiamos menos.
Cortamos nossas regalias,
Não comiamos todos os dias carne,
Não comiamos queijo, manteiga
Café que era o preferido do papai
Também tivemos que cortar pela metade,
Colocávamos uma colher de café para 3 copos de aguá,
Sua cor era um marrom bem suave.
Mas nunca vi o papai reclamar.
No máximo jogava a cadeira longe ou batia com a cabeça na parede,
Minha mãe não parava de chorar
Por não poder mais comprar suas roupas mensalmente.
Minha mãe vivia reclamando com meu pai,
Dizia a ele que se ele trabalhasse mais teríamos mais dinheiro.
E ele ouvia quieto tudo isso,
Mas a cada grito de minha mãe
Via o ódio crescendo em seus olhos,
Seus punhos a cada palavra se fechava com mais força.
Até que um dia ele não agüentou e bateu na minha mãe,
Bateu como um homem bate em um cachorro,
Ela só sabia gritar,
Eu para tentar defende-la,
Subi nele, cavalguei até ele me jogar no chão.
O ódio que meu pai consumia pela empresa foi jogado, esquecidos
Com aqueles murros.
Quando se sentiu vingado,
Saiu de casa.
Voltou no outro dia bêbado,
Não tinha ido para o trabalho,
Minha mãe encolhida desde ontem,
Se contraiu mais na parede,
Eu fiquei a sua frente para protegê-la
Não reconhecia mais aquele homem,
Aquele demônio não era mais meu pai.
Ele só gritou “não se preocupe criança, não baterei mais nela”
Vi a vergonha estampada em seu rosto,
Mas meu pai era o homem da casa,
Nunca iria se desculpar pelo que fez.
A cada dia que chegava em casa sua vergonha aumentava
Não conseguia nos fitar,
Mas o cheiro de cerveja só aumentava.
Até que ele começou uma rotina diferente
Transformou o bar em sua casa.
Era da mina para o bar, do bar para mina,
Quase não parava em casa.
Não víamos quase nenhum dinheiro.
Começamos a passar fome,
Minha mãe com medo,
Não pedia dinheiro para ele.
Começou a vender as coisas
Para colocar comida em nossa mesa.
Mas as coisas com o tempo foram se acabando,
E meu pai começava a ficar mais raivoso,
Chegava em casa perguntando sobre comida.
Minha mãe dizia que não tinha mais dinheiro,
Que ele não tinha dado o dinheiro necessário,
E ele com o diabo em seu corpo a espancava.
Isso começou a se tornar rotina,
Minha mãe com vergonha
Apanhava calada e não saia de casa,
Só sabiam que ela estava apanhando
Pelos urros do meu pai.
Em uma dessas pancadarias
Minha mãe ficou inconsciente,
Meu pai desesperado saiu correndo de casa,
Nunca mais voltou.
Gritei aos quatro ventos para nos ajudar,
Mas ninguém apareceu.
Tentei cuidar dela,
Mas ela não acordava,
Sai na rua batendo nas portas,
Mas ninguém, ninguém quis abrir a porta.
Não se intrometiam em briga de casal.
Cansado com as mãos doendo,
Voltei para casa,
Tentei acordar minha mãe e nada
Acabei dormindo de tanto chorar.
Acordei no dia seguinte com ela gemendo,
Minha felicidade foi tão grande que chorei,
Chorei novamente.
Ela estava viva, Viva.
Os dias foram se arrastando pela fome,
Ninguém sabia dizer onde meu pai estava
Mas eu sabia que ele se refugiará na mina,
Pois ali eu nunca quis entrar.
Fui varias vezes lá,
Esperava ele sair,
Mas nunca o via,
A fome piorava,
Mesmo minha mãe tentado esconder
Eu via em seus olhos a fome passar.
Decidi ir trabalhar
A única escapatória era eu entrar na mina,
Aquele buraco escuro,
Que eu sempre tive medo.
Ele sempre vinha em meus sonhos
E me engolia,
Engolia toda a minha felicidade.
Minha mãe se recusava a deixar eu entrar
Achava que meu pai voltaria,
Pelo menos tentava acreditar nisso,
Mas via que ela queria que ele não voltasse.
O medo só de falar em seu nome lhe causava tremores.
No dia seguinte fui para frente da mina para trabalhar,
Fiquei horas olhando para ela,
Com aqueles dentes afiados
Só esperando para me engolir.
Voltei para casa correndo de tanto medo.
Pedia desculpas para minha mãe,
Por ser tão medroso.
A noite não conseguia dormir
Sonhava que a mina me engolia e aos poucos
Mordia todos os meus membros até eu morrer.
Mas no dia seguinte eu voltei
Voltei como um homem,
Voltei com minha espada e meu escudo
Ela não me faria mal.
Entrei com a pá na mão,
Mal conseguia carregá-la.
Todos ficaram me olhando para ver se eu teria mesmo coragem de entrar.
Admito que tremi quando vi sua boca enorme
Esperando seu novo alimento.
Mas entrei
A pá ficava mais pesada a cada passo,
Mas me mantive com a coragem
O ar quente fazia eu ver tudo duplicado,
Fui falar com o chefe,
Ele riu quando soube que eu queria entrar.
Mas aceitou me empregar,
Mas eu ganharia por carro,
Eu seria o carregador.
No primeiro dia só consegui carregar um carro.
Todos me chingavam me batiam,
Por eu não conseguir empurrá-lo.
Muitos perdendo a paciência e empurravam sozinho o carrinho.
Mas minha armadura não me deixava cair,
Seria mais forte que eles,
Pois eu queria mais que ninguém,
Queria salvar a minha mãe.
Sai de lá com os homens gritando para eu não voltar nunca mais,
Pois se eu voltasse e não conseguisse empurra o carrinho eles me matariam.
Vi meu pai de longe,
A vergonha tinha o deixado mais magro,
Mais velho, mais malvado.
Ele fingiu que não me conhecia.
Isso só me impulsionou mais para fazer meu trabalho bem feito
Iria mostrar para ele,
Que por mais jovem que eu seja,
Seria um homem melhor que ele.
No dia seguinte fui novamente
Me bateram antes mesmo deu entrar,
Mas eu não ligava,
Fingia que eu estava em uma batalha
Onde quem agüentasse mais a dor ganharia.
Eu ganharia!
Eu ainda era a única criança a ir.
Tive muita dificuldade para empurrar o carrinho,
Mas dessa vez empurrei dois
Mas se eu empurrasse só dois por dia,
Continuaríamos a passar fome.
De madrugada, ficava correndo com um monte de pedras dentro de um saco.
Aos poucos fui me acostumando com o peso, com o ar quente e com a fome.
Minha mãe todos os dias chorava a minha partida.
Mas quando comecei a trazer dinheiro para casa,
Ela me abençoava, e dizia para eu voltar vivo de lá.
Via meu pai, as vezes,
Mas aquele homem não era mais meu pai
Então nem perdia meu tempo a ficar fita-lo.
Vendo meu desempenho
Alguns pais decidiram colocar seus filhos para trabalhar antes do tempo,
E com o tempo todos os filhos maiores de 7 anos já trabalhavam.
Virou um campo de concentração,
Onde os pais colocavam seus filhos
Para carregar pedras junto com seus primeiros passos
Depois de alguns anos meu pai,
Como um cão voltou para casa
Pediu perdão, se ajoelho e chorou
Nos implorou para lembrarmos dos velhos tempos.
Minha mãe o aceitou de volta
Eu que agora era um homem
Não precisava dele em casa para nos trazer comida,
Mas como minha mãe o queria,
O que eu poderia fazer.
Mas ele ficou em rédeas curtas.
Logo que eles se juntaram tiveram filhos,
E como um bom pai os ensinou a carregar pedras
A não ter medo da mina
Ele achava, agora, que um bom filho ajuda a família progredir.
Quando fui me dar conta
Só via crianças pela rua
Por onde eu olhava tinha crianças brincando de quem carregava mais pedras.
Com o numero exorbitante de nascimentos
O lucro da empresa aumentou,
Mas os salários não.
Por mais que trabalhássemos,
Por mais que mostrássemos nosso empenho
Não recebemos nada alem do que o salário de cada dia.
Vi crianças de 7 anos entrando
Como eu entrei um dia,
Com medo.
Algumas sem perceber pegavam minhas mãos para entrar.
Aquilo era uma visão horrenda.
Agora crianças de 10 anos cospem carvão puro,
Mostram suas mãos remendadas de calos,
Mostram seus corpos pretos
Não se dá mais para distinguir
Qual sua cor verdadeira,
Nem nas lembranças das mães elas existem.
Agora somos todos um,
Somos todos iguais
Lutando para sair dessa miséria.
Lutando para que nós possamos morrer o mais rápido possível
Hoje poucas pessoas se lembram,
Do nosso passado,
Sou um dos poucos que se lembra.
As vezes acho que a culpa disso tudo foi minha
Se eu não tivesse pego aquela pá tudo poderia ser diferente.
Eu não teria obrigado os meus filhos a carregarem pedras.
Mas agora é tarde,
A única coisa que tenho a fazer é contar essa historia
E rezar para que as pessoas acreditem
E sonhem com ela também.
Com todo mundo sonhando
As vezes podemos tornar o passado em futuro

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Não entendo

Facilidade de me deixar triste.
A tristeza me faz acreditar
Que eu sou humana.
Eu não consigo chorar,
Chorar é uma coisa
Muito mais humana
Que sou.
Tentei derramar lagrimas,
Mas minha alma
Solitária me impede de
Ser um humano qualquer.
Felicidade é um raio.
Sinto-a, mas logo passa.
Ela é algo que se tem para
Esconder meus problemas.
Riu para fingir que sou feliz,
Para não ter a encheção de saco
De pessoas ao meu redor
Perguntando sobre minha alma.
A preocupação alheia
É algo que me deixa curiosa
Para que tanta preocupação
Com a vida de outrem?
Para que isso?
Para esconder seus próprios problemas
Ou para ver que outro é tão infeliz quanto você?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dilaceraram-me

Mãos que tomam meu corpo.
Cada qual pega um pedaço da minha pele,
Tentam me dilacerar,
Tentam comer minha pele com suas mãos.
Sinto o calor de suas palmas
Irem de encontro aos meus órgãos,
Os músculos estão desistindo
De lutar para salva -lo.
Os órgãos mais rápidos
Aceleram seu desempenham
Quer morrer com honra
Com a honra de ter lutado pela a sua vida.
As mãos que não alcançaram meu corpo
Começam a ver qual irá desfalecer primeiro
As apostas são muitas
O dinheiro começa a entrar graças essa desgraça.
Gritam, gritam para saber quem vai ficar com o dinheiro.
Minha voz já não sai,
A dor já não existe,
Só os olhos estão conscientes.
Eu não consigo não olhar para a desgraça,
Sangue por toda parte,
Mãos por todos os lados,
Agora elas estão imóveis,
Estão a esperar o veredicto do vencedor.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Alheios

Vamos pegar seus corpos e arrancar seus membros
Para fazer churrasco,
Vamos colocar o sangue em taças de ouro
E brindar a misérias alheia.
Vamos meu povo,
Gritem por seus países
Levantem suas bandeiras,
Amem suas pátrias.
Vamos fechar os olhos
Para alem dos muros.
Vamos meu povo,
Saiam com seus carros
E não se esqueçam
De atropelar as carcaças
Quando vocês saírem de lá.
Vamos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!