terça-feira, 4 de outubro de 2011

Velha louca

Uma senhora, cujos olhos me eram familiares, me perguntou se eu pudia guiar seus cães, mas... mas ela não tinha nenhum cão, só se ela tinha e eu não conseguia vê-los, tipo Chapolin, só os espertos veem. Mas eu achando que a pobre coitada estava começando a enlouquecer, me juntei a sua loucura e peguei as coleiras e andamos, e como ela fala, Meu Deus, eram todo tipo de historias, mas todas reais, ela gostava de frisar.
Como aquela voz me era familiar, falava alto e um pouco agudo, e mal dava para acompanhar o que dizia, pois sua velocidade na língua, fazia qualquer um perder várias das palavras ditas. Continuamos seguindo para o oeste, não sabia onde iria dar, mas sabia que nela eu podia acreditar.
Entramos em uma rua estranha, ai eu comecei a ficar com medo, olhei para trás, mas não me lembrava como voltar. Podia correr, mas para onde iria, poderia ter mais loucos iguais a ela. Será que ela é uma daquelas bruxas, que pegam garotas, para vender a alma?
- Meu Deus me tire daqui. - Acho que eu disse isso, alto de mais, pois ela começou a ria. Sua risada me fez me lembrar quem era ela, mas era impossível ser quem eu achava que era. Simplesmente impossível. Mas o seu sorriso sem som, me dizia que era ela. Sim. Não, não pode.
Ela sentou na rua, com dor de barriga, de tanto rir. Comecei a rir, pois o seu sorriso era péssimo, horrendo de estranho. Ficamos ali sentadas, na rua.
Quando o ar dela voltou, ela me olhou
- Sim, sou eu mesma, qual é a dificuldade de acreditar?
- Qual é a dificuldade, isso é impossível pela física.
- Como se você fosse estudiosa, né? desde quando você entende de fisica?
- Ué, isso é uma coisa obvia.
- Para quem é obvia? para você? a rainha, do não acredito em nada? para você senhora do chocar os outros? quantas vezes você sonhou que isso ocorria?
- Vish, várias vezes?
- Então está acontecendo agora, qual é a dificuldade de acreditar?
- Sei lá. é muito, irrealista para acontecer
- Essa palavra existe?
- Você deveria saber, é bem mais velha que eu.
Ela voltou a rir, com aquele sorriso estranho, e os cachorros, que agora conseguia enxergar e que eu já conhecia muito bem, abanavam o rabo, achando também graça daquela risada.
- Como é a vida velha?
- Igual a nova, só que com menos choques e menos extravagancia de homens.
- Imaginei, você se casou?
- O que você imagina?
- Não, quer dizer sim.
- Qual sua resposta final?
- Sim.
- Por que?
- Porque quero acreditar nisso.
- Não lembrava como você tinha ótimas respostas.
- Mas eu me lembro como você é provocadora.
- Então por que tanto sofrimento nos olhos?
- Por que não acredito em nada
- Você não acredita, ou não quer acreditar?
- Os dois. Como você faz perguntas
- Como você pensa.
- Me faz parar de pensar.
- Pronto. Parou de pensar?
- Claro que não.
- Então não me peça as coisas, se você não quer que elas aconteça.
- Pára de dar uma de psicologa
- Pára de reclamar.
- Paro se você parar.
- Eu sou mais velha, mulher, me respeite.
- mimimi
- mimimi
E voltamos a rir.
- Você tem filhos?
- Sim.
- Quantos?
- Você terá que adivinhar?
- 2
- Não assim
- Então como?
- Acertando.
- Bla
- Quando você for mais velha você saberá.
- Quando eu for velha, serei feia que nem você.
- Claro.
- Vou ser feliz?
- Você está vendo eu chorar?
- Vou ter alguém que me ame?
- Eu me amo, isso ajuda?
- Claro, né, mas e os outro?
- Sim, vários.
- Eu os amo?
- Mais que tudo.
- Com quantos anos esses meus bebês vão me deixar?
- Eles ainda não me deixaram, não percebe?
- Então eu virei uma louca, que anda com coleira para cima e para baixo?
- Você continua a louca que ama tudo o que vê e acredita em tudo o que não vê.
- Me faz parar de chorar.
- Você já fez isso.
- Obrigada
- Não agradeça a mim e sim a você.

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