Uma senhora, cujos olhos me eram familiares, me perguntou se eu pudia guiar seus cães, mas... mas ela não tinha nenhum cão, só se ela tinha e eu não conseguia vê-los, tipo Chapolin, só os espertos veem. Mas eu achando que a pobre coitada estava começando a enlouquecer, me juntei a sua loucura e peguei as coleiras e andamos, e como ela fala, Meu Deus, eram todo tipo de historias, mas todas reais, ela gostava de frisar.
Como aquela voz me era familiar, falava alto e um pouco agudo, e mal dava para acompanhar o que dizia, pois sua velocidade na língua, fazia qualquer um perder várias das palavras ditas. Continuamos seguindo para o oeste, não sabia onde iria dar, mas sabia que nela eu podia acreditar.
Entramos em uma rua estranha, ai eu comecei a ficar com medo, olhei para trás, mas não me lembrava como voltar. Podia correr, mas para onde iria, poderia ter mais loucos iguais a ela. Será que ela é uma daquelas bruxas, que pegam garotas, para vender a alma?
- Meu Deus me tire daqui. - Acho que eu disse isso, alto de mais, pois ela começou a ria. Sua risada me fez me lembrar quem era ela, mas era impossível ser quem eu achava que era. Simplesmente impossível. Mas o seu sorriso sem som, me dizia que era ela. Sim. Não, não pode.
Ela sentou na rua, com dor de barriga, de tanto rir. Comecei a rir, pois o seu sorriso era péssimo, horrendo de estranho. Ficamos ali sentadas, na rua.
Quando o ar dela voltou, ela me olhou
- Sim, sou eu mesma, qual é a dificuldade de acreditar?
- Qual é a dificuldade, isso é impossível pela física.
- Como se você fosse estudiosa, né? desde quando você entende de fisica?
- Ué, isso é uma coisa obvia.
- Para quem é obvia? para você? a rainha, do não acredito em nada? para você senhora do chocar os outros? quantas vezes você sonhou que isso ocorria?
- Vish, várias vezes?
- Então está acontecendo agora, qual é a dificuldade de acreditar?
- Sei lá. é muito, irrealista para acontecer
- Essa palavra existe?
- Você deveria saber, é bem mais velha que eu.
Ela voltou a rir, com aquele sorriso estranho, e os cachorros, que agora conseguia enxergar e que eu já conhecia muito bem, abanavam o rabo, achando também graça daquela risada.
- Como é a vida velha?
- Igual a nova, só que com menos choques e menos extravagancia de homens.
- Imaginei, você se casou?
- O que você imagina?
- Não, quer dizer sim.
- Qual sua resposta final?
- Sim.
- Por que?
- Porque quero acreditar nisso.
- Não lembrava como você tinha ótimas respostas.
- Mas eu me lembro como você é provocadora.
- Então por que tanto sofrimento nos olhos?
- Por que não acredito em nada
- Você não acredita, ou não quer acreditar?
- Os dois. Como você faz perguntas
- Como você pensa.
- Me faz parar de pensar.
- Pronto. Parou de pensar?
- Claro que não.
- Então não me peça as coisas, se você não quer que elas aconteça.
- Pára de dar uma de psicologa
- Pára de reclamar.
- Paro se você parar.
- Eu sou mais velha, mulher, me respeite.
- mimimi
- mimimi
E voltamos a rir.
- Você tem filhos?
- Sim.
- Quantos?
- Você terá que adivinhar?
- 2
- Não assim
- Então como?
- Acertando.
- Bla
- Quando você for mais velha você saberá.
- Quando eu for velha, serei feia que nem você.
- Claro.
- Vou ser feliz?
- Você está vendo eu chorar?
- Vou ter alguém que me ame?
- Eu me amo, isso ajuda?
- Claro, né, mas e os outro?
- Sim, vários.
- Eu os amo?
- Mais que tudo.
- Com quantos anos esses meus bebês vão me deixar?
- Eles ainda não me deixaram, não percebe?
- Então eu virei uma louca, que anda com coleira para cima e para baixo?
- Você continua a louca que ama tudo o que vê e acredita em tudo o que não vê.
- Me faz parar de chorar.
- Você já fez isso.
- Obrigada
- Não agradeça a mim e sim a você.
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